Caruaru (PE)
Junho de 2017.
“Tudo começa pelo fogo”, sussurra pausadamente, como quem compartilha um segredo valioso. Seu João está a postos, mais uma manhã, para seguir com sua labuta: fazer o instrumento que ele carrega no nome e por meio do qual tem escrito sua história.
“Eu faço pife. Toco pife. Vendo pife. Como o dinheiro do pife. Depois de véio, vou ficar pifado”. João Alfredo Marques dos Santos, mais conhecido como Mestre João do Pife, canta sua vida, gargalha batendo palmas e emenda: “Ficou véio, pifou. Então eu tô pifado!”. Ele amplia o significado da palavra pifado: dos seus 74 anos, quase 60 são tocando o instrumento, “e pra mais de 50 de fabrico”.
Esplanada dos Ministérios
Brasília (DF). Brasil.
2010-2017
20 de novembro de 2016
Quilombo dos Palmares (AL)
Cidade de Goiás (GO) Agosto de 2017
Hélio Gomes do Carmo, proprietário da Casa das Raízes, localizada no Mercado Municipal da cidade, e a saga da extração do Vinho de Jatobá, seiva da árvore que serve "pra gastrite, bactéria no estômago, cirrose, tosse, gripe. E também um tônico fortificante muito bom”
Kuarup. Aldeia Ipatse. Parque Indígena do Xingu (MT)
Agosto de 2015
Primeiro de Maio. Dia do Doutrinador
Vale do Amanhecer (DF)
2014 - 2019
Cachoeira e São Félix (BA)
Maio de 2017
Acampamento Maria da Penha Resiste, do MTST.
Planaltina (DF)
Maio de 2016
Reintegração de posse. Ocupação de nova área, seguida de outra remoção. E nova ocupação, onde as famílias encontram-se até hoje, no prédio da UNAF, também em Planaltina.
Ocupação Marielle Vive (MST), nas terras de João de Deus, em Anápolis (GO)
Março de 2019
Gamboa. Rio de Janeiro (RJ)
Agosto de 2016
Fala mansa, baixa, expressiva — até nos silêncios. Caminhar lento de quem carrega uma vida no samba e uma parte do corpo. Avistando-o de longe, quem o reconhece em suas criações abre um sorriso-abraço de reverência e carinho.
Quando senta na roda, alguma coisa de juventude se reestabelece nos ombros, nas mãos, nos olhos, na voz, dele e de quem o cincunda. O olho mareja. Reconhece saudades — a de sambar, diz ele que aflige.
Puxa o brinde e relembra que noutros tempos seria um Domec. Quem traz o copo d’água — e aparece em várias fotos — é Ângela Nenzy, sua companheira há 26 anos. Ângela canta, dança, bebe e às vezes deixa escorrer uma lagrimazinha cheia de muita história vivida junto.
O ensaio era pra ser sobre o Wilson Moreira. Mas não tem como apontar a câmera pra ele e não ver ali pertinho Ângela e esse amor.
-Sambou bonito, preta!, diz ele assim que acaba o samba
Caruaru (PE)
2017
Parte da família do Mestre Gercino, falecido em 2011, herdeiros do Boi Tira Teima, o boi mais antigo de Caruaru, com 95 anos. Esposa, Dona Lindaura, 82 anos, e os filhos Adalberto e Roberto.
“Dos meus filhos, qual é o mais velho? O Tira Teima. Aí Adalberto diz: ´Oxi, mãe! A senhora quer botar eu no recanto pra botar o boi?´ Eu digo: ´É não, meu fio, é porque o boi já tem noventa e poucos anos e você só tem sessenta”, ri dona Lindaura.
*Em setembro deste ano a matriarca do Boi centenário, Dona Lindaura, nos deixou.
Três gerações da família da baiana Tânia Nery tiram seu sustento do Acarajé, vendido no Farol da Barra.
Salvador (BA).
Agosto de 2017.
Boi de Seu Teodoro.
Brasília (DF)
2016.
Primeiro de Maio.
Vale do Amanhecer (DF)
2014.
Banda Rios Voadores.
Brasilia (DF)
2016.
Sombrar
2016
Uma tarde de Joe Silhueta entremeada com fragmentos de Mitologia Grogue, de Guilherme Cobelo
As torres mancas despencam seus últimos lajedos. Não há mais lança a empunhar, arco a tornar teso, tampouco os cavalos de fuga. Não estão mortos: não existem. Foram-se também os palhaços, as companhias de bufões que te deleitavam nos intervalos entre o pensamento e a consciência. Lá se vai o trovador, menestrélico e lírico, por medo aedo, vate do vai-se o tempo em silhueta — atrás, cordas amarelas rabiscam nas areias do caminho os traçados misteriosos de uma insuspeita melodia. O sol, o cúmulo solar, com seus cabelos cacheados e potentes, afasta com oscilares a lunárica turma de seus antigos assombros. Heliófobo? Talvez. Nosferatu era tu na janela a cobrir os olhos. Ela o sol. No profundo de sua memória a fantasmagoria conduz gestos e olhares ao recôndito seguro. Pelas máscaras chega-se a essência, vai-se até ela, que reclama aparência, transparência. Condutas e hábitos, afinal, se desmancham na primeira brisa da vontade. Quereria tanto a ponto de mutar? A fantasia cessa quando o mago recolhe o condão. Paranóia, my friend, é o nome do esquivar-se ao bosque. Não só pela família, pelo estado e pela religião se conformam os motes de nossas índoles. Os traumas do afeto se estampam na paisagem com a força de mil crepúsculos. Compete ao grogue agora a bricolagem, os recortes, o desenredo dessa trama ancestral. Se é ao instante que oferece tua fibra, calca sob os pés a imagem baça de teu passado-sombra. Ou então,
jogue com ela, com elas, com as sombrilinas, dance com as sombras — não percebe como elas bailam com naturalidade, e que o próprio bailar é uma de suas virtudes mais belas? Aprender a sombrar sem ser tomado de assombros: assim amanhecemos, retendo do sol o halo. Seus olhos ainda se espantam, mas aos poucos bebem desse trópico aguanto. Um brinde ao grogue inventor e à inventriz que diante das ruínas não chorou passivamente, um brinde à ode da matéria revivida, à sucata de teus sonhos transformada em lira.
EVOÉ!
Vicente Pires (DF)
2016